O
uso e mobilização da memória,
enquanto função cognitiva, trata-se de tema estratégico e de grande importância no processo de
preparação para concursos públicos. Não por acaso existem
vários textos publicados aqui no Blog que tratam do presente assunto, com
diversas abordagens.
Inclusive
as memórias episódicas já foram abordadas em outro texto específico. Mas o objetivo agora é trabalhar com as
memórias episódicas em outro sentido, apresentando uma nova modalidade de
aplicação útil deste conceito.
Primeiramente,
cabe esclarecer que, quanto
ao objeto memorizado, as memórias semânticas, que são aquelas que não contam
com natureza psicomotora, se dividem em conceituais, as quais correspondem aos
conceitos e informações que aprendemos, bem como episódicas.
Estas, por sua vez, consistem naquelas que contam com um caráter factual, ou seja, uma
experiência real e vivenciada (IZQUIERDO, Ivan.
“Memória”. Porto Alegre: Artmed, 2002, págs. 16/17).
Geralmente,
no processo de preparação para concursos, somente trabalhamos e pensamos na
formação de memórias conceituais. Mas as memórias episódicas também podem ser bastante úteis e
trabalhadas de forma estratégica, principalmente no processo de
evocação, isto é, de recordação
da informação que precisamos resgatar, inclusive nas provas.
Como
assim?
Por
vezes pode ser que o
resgate da informação ou conceito seja viabilizado exatamente a partir da
experiência real vivenciada no contato que tivemos com este conceito,
ou mesmo envolvendo uma situação real na qual este conceito foi aplicado.
Vou
dar um exemplo banal, mas que reflete a ideia e facilita a sua compreensão.
Havia
uma palavra em
inglês quanto a qual eu tinha certa dificuldade em memorizar. Naturalmente que
as causas desta “dificuldade” – sendo que tenho dúvidas se esta é a palavra
certa, por si só, daria um longo estudo e reflexão.
Faço tal afirmação pois,
por vezes, a causa da não viabilização da memorização e capacidade de evocar
uma informação decorre do processo de contato ou estudo
que foi realizado.
Mas
o fato é que aquela palavra, apesar dos vários contatos que eu tinha tido, não
conseguia lembrar. Um dia, numa determinada ocasião específica, estava lendo um
livro em inglês, com a minha esposa ao lado. E apareceu a tal palavra (na
verdade era um verbo). Naquele momento, me lembro até de uma terceira pessoa
que se aproximava para nos abordar, a qual saiu logo em seguida. Daí, como não
me lembrava da palavra, indaguei minha esposa se ela sabia, a qual sabia e me
esclareceu.
A
partir daquele momento, sempre que vou evocar aquela palavra, a mencionada
experiência episódica me vem à mente, antes mesmo da tomada de consciência da
evocação do significado da palavra, a qual vem logo em seguida.
Mas
o que ocorreu naquela experiência e o que ocorre quando me lembro a palavra da
mencionada maneira?
Resposta: eu resgato uma memória conceitual a partir de
uma memória episódica!
O
Prof Antonio Damásio, neurocientista e neurologista, uma das maiores
autoridades da neurociência na atualidade, coloca em um dos seus livros um
relato sobre uma situação na qual estava em casa e, de repente, lembrou de um
antigo amigo, bem como de experiências vivenciadas com este amigo. Daí começou
a estudar e analisar a causa daquela evocação espontânea. Após longas
investigações, levantamento de hipóteses e estudos, ele constatou que havia
feito um movimento ao andar semelhante à forma como o seu amigo andava. (“E o
cérebro criou o homem”. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 168).
Ou
seja, uma memória
psicomotora, inclusive de forma inconsciente, levou à evocação de uma memória
episódica.
Tudo
bem, mas como a ideia apresentada pode ajudar nos concursos públicos?
De
várias formas e, desde já, comece a pensar nisto! Aliás, a minha proposta é apresentar conceitos
e provocar reflexões estratégicas e atitudes pragmáticas e utilitárias. Não é a intenção vender verdades
absolutas e fórmulas mágicas fechadas, ao contrário do que há
por aí, por parte dos especialistas (sem especialização) em preparação para
concursos.
Mas uma sugestão importante é que, por
exemplo, ao estar fazendo uma prova e precisar evocar um conceito que não
consegue lembrar, tente lembrar da experiência ou situação na qual teve contato
com este conceito. Como no caso da experiência acima narrada.
Por
outro lado, ao tomar contato com conceitos, ou seja, ao estudar individualmente ou assistir
uma aula, tenha atenção às circunstâncias, pois a evocação destas
circunstancias (memória episódica) pode ajudar na evocação do conceito ou
informação exigidos no momento da prova (memória conceitual).
Portanto,
tende usar as memórias episódicas como uma aliada!
O Direito Revisto – Mai/13
Publicado
originalmente em: Blog Iob Concursos
Imagem: Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário