domingo, 5 de maio de 2013

Minha trajetória nos concursos


Por Carta Forense entrevistando Emanuel Marques
 
Em que momento decidiu se enveredar pelos concursos públicos?
A partir do primeiro momento que iniciei meus estudos jurídicos, já tinha como meta realizar concursos públicos. Inicialmente pensava na carreira do Ministério Público, após os estudos durante a faculdade pensei em realizar concurso para Magistratura, todavia após alguns anos de meditação e maior conhecimento das carreiras jurídicas optei em ser Defensor Público da União. Tal escolha se deu pelo trabalho social e gratificante realizado pelo Defensor Público, que cotidianamente auxilia milhões de brasileiros a conquistarem seus direitos.

Quando iniciou seu preparo? Qual metodologia usou?
O preparo para o concurso público se inicia a partir do momento que você decide estudar de verdade, abdicar de inúmeras coisas que gosta de fazer, deixar de sair, estudar fins de semana, etc... Desde o início da faculdade eu já vinha me preparando para realizar os concursos públicos existentes. Todavia, a intensificação dos estudos ocorreu após dois anos de conclusão do curso de direito, ocasião em que levei os estudos a sério, me concentrei e resolvi estudar pra valer.
Quanto à metodologia, frequentei vários cursinhos preparatórios existentes no mercado. Participei de cursos presenciais e virtuais. Como tenho uma memória auditiva muito boa, optava em ouvir muitas aulas e palestras. Além disto, a leitura é essencial da doutrina e jurisprudência. Os informativos do STJ e do STF também são de leitura obrigatória para qualquer estudante que pleiteie alguma vaga no serviço público.
Como assessorava no TJMG, trabalhava no período da tarde, restando a parte da manhã e a noite para dedicação aos estudos. Assim, estudava por volta de 3h no período da manha e a noite sempre estava fazendo cursinho. Sábados, domingos e feriados intensificava leituras, aulas, palestras, etc...

Quanto tempo demorou para ser aprovado no primeiro concurso?
Quando estava na faculdade fui aprovado no Concurso do Tribunal de Justiça de Minas Gerais para o cargo de Oficial de Justiça. Tomei posse e fui assessorar uma Juíza de Vara de Fazenda Pública. Após este concurso, continuei estudando e após 04 anos fui aprovado na Defensoria Pública da União.

A Defensoria Pública da União sempre foi seu foco principal?
A Defensoria Pública da União não era o meu foco principal, mas era uma das carreiras que mais me atraía. Inicialmente pensava em realizar concurso para a magistratura, todavia após aprovado na Defensoria Pública, me senti realizado profissionalmente, não pretendendo, atualmente mudar de carreira. A Defensoria Pública da União me possibilita conciliar vida pessoal, carga de trabalho e qualidade de vida.  Quem está estudando para concurso público deve pensar seriamente na carreira após aprovação. Atualmente, as carreiras da magistratura e ministério público estão bem lentas, fazendo com que o aprovado fique durante vários anos em cidades pequenas do interior. Assim, quem gosta de morar em grandes centros urbanos deve ponderar se realmente é isto que quer ao longo dos seus anos de vida.  É primordial, na minha opinião, conciliar qualidade de vida com o exercício da profissão. Fica a dica!

O senhor sofreu alguma cobrança de familiares e amigos pelo resultado pretendido?
 Meus familiares nunca me cobraram ou pressionaram a passar em nenhum concurso público, sempre tive a liberdade de fazer o que eu desejasse, com todo o apoio do meu saudoso pai, de minha mãe e de minha irmã. Os amigos sempre me incentivaram e souberam respeitar o meu espaço voltado aos estudos, sem interferências e sugestões que pudessem atrapalhar as inúmeras horas voltadas aos livros e às aulas que frequentava.

Depois de aprovado, como foi sua rotina de defensor público recém empossado?
Após aprovado fui designado para atuar no Município de Sorocaba/SP, com a missão de instalar, juntamente com outra Defensora Pública da União a unidade naquela subseção judiciária. Neste sentido, grandes desafios foram colocados: instalar uma nova unidade (questões administrativas) e iniciar a atuação propriamente dita.  Assim, havia muito trabalho e um grande desafio que é o funcionamento de uma nova unidade.  Após, várias reuniões, hoje a Defensoria Pública da Sorocaba está em funcionamento prestando assistência jurídica para vários brasileiros.

Quais são as atividades que um defensor público da União exerce? Como é a rotina profissional?
O Defensor Público da União exerce várias atividades que estão prevista na Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar n. 80/94. Em suma o Defensor Público da União  garante o acesso de pessoas carentes à Justiça, prestando assistência a quem não tem condições financeiras, no âmbito vista judicial e extrajudicial. O Defensor Público representa o cidadão carente perante a União, suas autarquias, Fundações e órgãos públicos federais (INSS, INCRA, FUNAI, Exército, Marinha, etc.), empresas públicas Federais. Atualmente, sou titular do 4º Ofício Previdenciário de São Paulo, atuando na área previdenciária, com o ajuizamento de ações e recursos em prol da população carente que deseja obter auxílio doença, aposentadoria por invalidez, benefícios do BPC, dentre outros.

Qual foi o momento mais engraçado ou curioso da sua carreira até agora?
Um dos momentos engraçados ocorreu quando no atendimento da Defensoria Pública de São Paulo apareceu um sujeito requerendo asilo político alegando que era filho da Rainha da Inglaterra e estava sendo perseguido pelo Pentágono e o Presidente dos Estados Unidos. Logicamente, o encaminhei para um hospital psiquiátrico.  O atendimento da Defensoria Pública tem vários acontecimentos curiosos. Não são raras as vezes que surgem pessoas alegando que possuem chips inseridos pela Polícia Federal e que estão sendo monitoradas 24h.

E o mais triste?
Infelizmente, o Poder Executivo em geral não quer valorizar a Defensoria Pública concedendo boa estrutura para o órgão prestar assistência jurídica de forma satisfatória e eficiente. Em virtude disto, em vários estados do Brasil, os atendimentos ficam restritos, atende-se somente urgências e o cidadão fica prejudicando vendo os seus direitos se perecerem por falta de estrutura adequada fornecida pelo Governo. No caso da Defensoria Pública da União, o Governo Federal ainda reluta em conceder autonomia orçamentária e administrativa ao órgão o que prejudica em muito as atividades do Defensor Público.
A Associação dos Defensores Públicos Federais – ANADEF – está lutando juntamente com a equipe do Defensor Público Geral da União, para aprovar a PEC – PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL que concederá autonomia para o  órgão. Com aprovação desta PEC espera-se que o órgão possa crescer e atender de maneira eficiente os cidadãos brasileiros.

Quando um acadêmico ou bacharel toma a decisão de ingressar numa carreira pública, qual o primeiro passo a ser dado?
 As carreiras públicas de estado exigem do estudante de direito muita dedicação e trabalho. As pessoas que trabalham como “servidores públicos” prestam atividade para o público em geral. Independentemente da função exercida de membro do Poder Judiciário, do Ministério Público, Defensoria Pública, Procuradorias Públicas, Delegacias, etc... todos prestam a função pública , devendo ter a consciência de bem servir às pessoas que pagam os salários de todos estes profissionais acima citados.

O que deve esperar o concursando na hora de optar pela carreira na Defensoria Pública da União?
A carreira de Defensor Público exige muita dedicação. O perfil resume-se em vocação, de gostar de atender público carente e humilde. O defensor público é aquele que tem que passar confiança ao seu assistido, que não possui ninguém que possa auxiliá-lo. A Defensoria Pública é o último órgão que o cidadão procura e que pode tentar implementar o seu direito que, muitas vezes foi gravemente violado.
Por fim, lembro trechos da canção de Chico Buarque “Tem certos dias em que eu penso em minha gente e sinto assim todo o meu peito se apertar. (...) São casas simples  Com cadeiras na calçada E na fachada  escrito em cima que é um lar  Pela varanda  Flores tristes e baldias  Como a alegria  Que não tem onde encostar  E aí me dá uma tristeza  No meu peito  Feito um despeito  De eu não ter como lutar  E eu que não creio  Peço a Deus por minha gente  É gente humilde Que vontade de chorar”  Sem sombra de dúvidas, a atividade do Defensor é representar esta gente humilde que é o retrato da maioria da população brasileira. Vive nas favelas e nos subúrbios das grandes metrópoles ou no interior do país. É gente trabalhadora, que não desiste e batalha pelo pão a cada dia.
Ser Defensor Público é justamente assegurar direitos sonegados aos carentes, como a titularidade de uma moradia digna ou acesso aos serviços de saúde ou, ainda, à própria liberdade arbitrariamente restringida pela prisão. É para defender juridicamente essa gente humilde, que não tem com quem contar que existe o Defensor Público Federal.

O Direito Revisto - Mai/13
Publicado originalmente em:  Carta Forense

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