Leon Rabinowicz considera
através da análise histórica da Filosofia e da Psicologia que as quantidades
identificáveis de paixões são infinitas, e ao mesmo tempo, podem integrar uma
única palavra. Comenta, ele que, para Epícuro existiam três paixões, identificadas
como sendo, o desejo, a alegria e a dor; os estoicos identificaram quatro,
sendo elas, o desejo, a tristeza, alegria e o medo; já os cartesianos enquadravam
o desejo, a alegria, a tristeza, a admiração, o amor e o ódio, encontrando
assim, seis formas diferentes de representar a paixão. Defendiam que o
despertar das paixões ocorria devido o movimento cerebral da pequena glande que
se encontra no centro do cérebro, através de uma agitação dos espíritos dos
animais dando uma conotação meio irracional aos comandos humanos.
Reportando-se a Bossuet, o
autor diz que, “o ódio que o homem tem por determinado objeto, só provém do
amor que tem por outro. O desejo não é mais que, um amor por uma coisa que ele
não possui como a alegria é um amor que se refere àquilo que possui”.
A audácia é enfocada pelo
autor como sendo a coragem que leva a busca do que se deseja; a esperança por
sua vez, acha-se nobre e acredita possuir o objeto; o desespero sente-se
aprisionado porque sabe que não vai mais possuí-lo por todo o sempre; a cólera
é a afronta ao sentimento de perda, e se o amor for afastado, acabar-se-ão as
paixões, mas se o amor sobrevive, todas vêm à tona.
No dizer de Enrico Ferri
“o amor é a mais humana e a mais terrível das paixões”, porque permeia as
relações cotidianas de todos os seres vivos e se esvai na penumbra, sem que a
sociedade tenha conhecimento do quanto isso afeta às pessoas, sejam elas comuns
ou da alta sociedade.
Diz
ainda o autor que, as paixões que possibilitam que o ser humano raciocine, não
podem diminuir a sua responsabilidade mediante o fato que cometera; somente
teriam este direito, as paixões cegas que deturpam a consciência.
A
paixão é devastadora, vasta, sentimento emocional intenso, forte, uma
sobreposição ao racional, amor ardente, forma suprema de humanização do mundo,
dedicação integral aos pobres como a de Madre Tereza de Calcutá, a força dos
extremos que é cega quando faz o mal e boa quando se entrega ao bem, pode ser
inocente, útil, atividade dominadora, posse, amor próprio, egoísmo, exigir
presença, divinizar o homem quando exige martírio, redimir fraquezas e pode ser
ruína, conforme descreve Jaime Paviani.
Enrico Ferri considera que,
as paixões se dividem em duas espécies, que são: as paixões sociais, que são
úteis aos seres humanam e as antissociais que só podem prejudicar.
Para o autor, paixão antissocial,
não pode se entender como a paixão antissocial estudada através da Psicologia e
suas ramificações, quando se estuda os distúrbios da personalidade antissocial.
Segue dizendo que, a
paixão que enobrece as razões humanas, e torna a sociedade mais coesa, é a
paixão útil, é o sentimento que faz bem e harmoniza toda a estrutura social, já
a paixão movida pela cupidez, pelo ódio, pela vingança, só desgraçam destroem e
são antissociais e imorais.
A
paixão é o amor carregado, impregnado de ciúme, que cria no homem uma segunda
natureza, conforme entende Benedito Raymundo Beraldo Júnior, quando diz que:
Fato é que a paixão
origina-se do amor, carregado de ciúme, atingindo uma aguda inflamação dos
sentimentos. Há “apaixonados” que se entregam ao silêncio, à depressão ou
reagem de forma brutal e fria, são impulsivos e explosivos. Traduz Rabinowicz
que “uma grande paixão cria no homem como que uma segunda natureza e todas as
leis da sua psicologia normal perdem o valor”.
A
paixão, também é tida como sentimento violento que causa dor, sofrimento e
cólera, quando, Francisco da Silveira Bueno, diz que, a paixão é:
Sentimento excessivo;
afeto violento; amor ardente; entusiasmo; grande mágoa; cólera; objeto de
afeição intensa; parcialidade; sofrimento prolongado; martírio de Cristo.
De Plácido E Silva,
entende paixão por uma exaltação ou irreflexão, consequente de um desmedido
amor à mulher ou de contrariedade a desejos. Qualquer fato que produza na
pessoa emoção intensa e prolongada, diz-se paixão. Assim, tanto pode vir do
amor como do ódio, da ira e da própria mágoa.
A Pathos (Paixão) tem sua origem no grego
e significa algo denominado como afeição, sentimento forte e dominador.
Hoje entende-se por paixão um
sentimento forte, impregnado por uma emoção violenta e até colérica, uma
dependência do outro, necessidade de ter a pessoa pretendida sempre sob
controle e por perto para vigiar seus passos. A possessividade e a dominação
são características predominantes nos homicidas passionais.
A
Paixão pode ser definida sob várias óticas, por isso, a classificação
‘passional’ não cabe nos códigos. A codificação busca de forma objetiva a
tutela de valores essenciais como à vida. A subjetividade na forma de
interpretação deste sentimento faz com que, as sanções aplicadas fujam a uma
regra geral, sendo necessário o estudo de cada caso em particular.
Conforme
Paulo Roberto Ceccarelli, o acometido por paixão, é aquele que padece de alguma
causa que desconhece e que o leva a reagir de forma imprevista. A paixão demonstra uma permanente dependência
do outro ser. Aristóteles entendia paixão como um elemento intrínseco ao ser
humano, que não deveria ser extirpado e nem condenado. Platão entendia que as
paixões traziam obstáculos, e por isso, defendia que as pessoas deveriam se
defender, usar de força para defender-se de seus malefícios. Aristóteles
acreditava que, por não escolher suas paixões, o homem não poderia ser
responsável por elas, mas deveria responsabilizar-se pelas ações decorrentes
desse sentimento, quando estas de alguma forma alterassem o curso normal da
vida de cada indivíduo. Aristóteles tinha como inconcebível a ideia de que o
comportamento passional era involuntário, impensado. Defendia o equilíbrio
entre os sentimentos; a dominação de tais impulsos, mas nunca a repreensão,
pois acreditava que o homem virtuoso é aquele que sabe usar a pathos (paixão) com a logos (razão).
Paulo
Roberto Ceccarelli, diz que, a paixão na visão de Aristóteles não é algo ruim.
O que pode desvirtuar este sentimento é a intenção que se esconde em cada
atitude cometida pelo ser humano, como um homicídio passional. A paixão em si,
o sentimento puro, faz bem, pois serve como mola propulsora da humanidade.
Segundo
o mesmo autor, Hegel expressava sua visão sobre o tema com a seguinte frase:
‘Nada de grande se faz sem paixão’.
A falta de ‘manutenção’, cuidado com este
sentimento, leva o ser humano a passionalidade, a cometer atos contrários à
ética, a moral, os bons costumes e as normas jurídicas.
Defende
Enrico Ferri que, o amor, na mulher representa a relação com a maternidade, por
ser um diferencial sublime, um sacrifício de energias orgânicas e psíquicas que
conseguem gerar a vida mostrando-se de forma altruísta em confronto com o
homem. Em contra partida, enquanto que
para a mulher, o amor é percorrido através de uma estrada dolorosa, mas florida
pela maternidade, para a percepção do macho, o amor é volúpia dos sentidos, é
um convite, uma conquista, um entregar-se aos excessos sexuais, e estes acabam
por corroer e paralisar a sua vontade, fazendo com que o excesso de amor
sensual leve-o ao crime, por não comandar mais seus sentidos de forma racional.
Existe
uma necessidade constante da vigilância de sentimentos. O ser passional
equipara-se a um animal irascível mesmo tendo consciência do que está fazendo,
diante de situações que entende ser afronta a sua honra e a necessidade de ser
bem quisto na sociedade.
“A palavra paixão é vasta,
às vezes devastadora”. A paixão é uma emoção intensa que ultrapassa os limites
da razão. “A paixão parece ser à força dos extremos. Cega, quando se dirige ao
mal. Lúcida, quando pratica o bem”, conforme define Jaime Paviani.
Rosita
Esteves Lampert, diz que, as paixões se originam das pulsões, que são forças
antagônicas que lutam e se unem. Essas forças são Eros e Thanatos. A primeira
tem como princípio a preservação da vida, a ligação com o corpo materno; a
segunda, é a falta de movimento, é o aproximar da morte.
Ainda,
segundo a psicanalista, a origem das paixões está associada ao amor entre mãe e
filho. Essa relação forte de afeto, carinho, proteção e prazer, sentidos pela
criança, faz com que ela projete em outro indivíduo as fantasias primárias da
plenitude.
Defende
a psicanalista, que quando ocorre à paixão, estas fantasias primárias vêm à
tona e projetam no outro à felicidade, o não mais sofrer, o encontrar a solução
para o sofrimento e dependendo do elo entre mãe e filho, na tenra idade, o
indivíduo fica preso, fixado ao aprendizado primitivo e não amadurece suas
emoções.
Maria
Rita Kehl, também concorda que, as paixões são originárias das pulsões que
seguem as vertentes de Eros (pulsão da vida) e Thanatos (pulsão da morte). A
partir desta convicção, a autora, analisa a conduta de uma criança desde a sua
vida intrauterina, onde, diz que, a partir do momento em que o pequenino ser
sente-se frustrado pelas atitudes da mãe, começa a entender que faz parte de um
mundo externo. Nesse momento surge o primeiro sentimento de diferenciação entre
criança-mundo, que é o ódio. O sentimento de amor surge após algumas
frustrações proporcionadas pela mãe quando, não atende suas vontades. O mesmo
objeto que satisfaz também frustra. O que se ama e o que se odeia, fazem parte
do mesmo, como se fosse uma moeda com suas duas faces, e nesse momento
assimilamos de forma inconsciente a ambivalência, que nos conduzirá como uma
bússola pelo resto de nossas vidas.
As situações vividas pela
criança, em seus primeiros contatos com as demandas puncionais, serão revividas
no desabrochar de suas paixões adultas. O primeiro desejo quando o indivíduo se
apaixona é encontrar, no ser amado, o complemento para sua vida, ou seja, o
complemento para aquela frustração que teve nos primeiros contatos com sua mãe.
Quando no seu entendimento adulto não consegue satisfazer suas prospecções,
ocorre a decepção, que pode se tornar amor ou não, e nessa segunda opção,
surgem às paixões que matam, conforme defende a autora.
A satisfação parcial que a vida permite, no dizer de
Maria Rita Kehl, gera um excedente que:
Entre as
aspirações de satisfação total das pulsões e a satisfação parcial que a vida
nos permite, há um excedente de energia que não obtém descarga – um excedente de
excitação que não se aquieta porque não encontra o que o satisfaça plenamente.
Rosita
Esteves Lampert, diz que, a paixão desenfreada é um modelo de paixão doentia,
quando:
A paixão
desenfreada parece estar tentando realizar a fusão inicial e total com o ser
amado, já perdida ao menos enquanto estado absoluto e narcísico.
[...]
Tem-se aí
o modelo da paixão em uma forma doentia, descontrolada. O objeto da paixão é
tão imprescindível para a própria existência do sujeito que sua ausência é
sentida como morte. Nessa condição, o
outro é colocado como fonte exclusiva de todo o prazer, sendo também deslocado
para ele o registro das necessidades. Parece uma necessidade imperiosa.
[...]
A paixão
desperta um sentimento ambivalente, pois se por um lado promete a plenitude,
por outro desperta o medo da perda. Essa ambivalência aparece, também, num
aspecto duplo da paixão, visto que se pode pensar na paixão que leva à vida – o
pulsar da vida, assim como na paixão que leva à morte – o pulsar para a morte.
Paixão
e loucura, conforme Maria Lúcia Horn Sehbe andam abraçadas por um curto espaço
de tempo, em vista que:
As
emoções fortes e arrebatadoras, que levam ao delírio e fazem sonhar pelo menos
por alguns segundos, mostram a força de sentimentos que são puro prazer,
loucura, desejo, temor, amor e principalmente paixão.
Estas
sensações levam o corpo e a mente a provar vibrações que exalam o mais puro
condicionamento de calor que vai nos levando a fazer de tudo para conseguir o
que queremos e proporcionar bem estar.
[...]
É neste
tempo que se descobre que paixão e loucura andam abraçadas e que entre ela e a
insanidade do amor existe um curto espaço, que entre a paixão e o delírio
existe uma proximidade assustadora, que pode levar os mais passionais a cometer
atos de completa demência.
Milton Augusto Moojen Júnior considera que:
A paixão
pode-se dizer, é um sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade,
sobrepondo-se à lucidez e a razão. Um amor ardente; uma inclinação afetiva e
sensual interna. É o afeto dominador e cego. Uma obsessão.
Para Gerard
Lebrun, a paixão é sempre provocada por algo que exige reação de improviso. É
um sinal que caracteriza que um indivíduo existe em função do outro.
As
paixões são movidas pelas pulsões, quando Maria Helena de Barros e Silva, diz
que:
[...] a
paixão está na ordem pura da pulsão, ao passo que o amor leva em consideração
outras demandas do sujeito que não seja meramente a realização passional.
[...]
A paixão amorosa, por
sua dimensão de ligação e submissão ao outro, não permite a expressão de
ternura. A ternura é desta forma, um sentimento que não está na ordem da paixão.
Nelson Hungria defende que, a paixão encontra-se situada
entre a emoção e a loucura. Da emoção sai a sua essência, que quando exacerbada
torna-se paixão e quando extrapolar a exacerbação vira loucura. A violência e o
tempo de durabilidade é que evidenciam um estado de paixonite, e neste tocante
segue dizendo que:
A paixão
é a emoção em estado crônico, é a emoção que se protrai no tempo, surdamente,
introvertidamente, criando um estado contínuo de perturbação afetiva em torno
de uma ideia fixa, de um pensamento obsidente. A emoção dá e a passa; a paixão
permanece, incubando-se. Mas a paixão é como o borralho que, a um sopro mais forte, pode chamejar de novo,
voltando a ser fogo crepitante, retornando a ser estado emocional agudo.
O sentimento paixão,
segundo Leon Rabinowicz, pode deixar o homem fora de seu estado normal, criando
uma natureza à parte, onde tudo o que lhe servia como verdade perde o valor,
deixando de existir, surgindo uma outra consciência com novos parâmetros.
Enrico
Ferri, por sua vez, aponta que:
A paixão
que aumenta e reforça e nobilita as razões e a coesão da sociedade humana, como
o amor, a honra, a justiça, a piedade, é uma paixão útil à espécie, e até moral
e social. Pelo contrário, a paixão que desagrega e embrutece a união humana,
como a vingança, a cupidez, o ódio, é uma paixão prejudicial à espécie e, por
isso, imoral ou antissocial.
Quando
eclode a paixão o indivíduo fica absorvido, dominado e transforma seus
sentidos, sua personalidade, seu intelecto e seu emocional. Milton Augusto
Moojen Júnior segue dizendo que, quando isso ocorre seu estado de percepção já
está grave e provavelmente a mais comum das deformações causadas pela paixão
vêm à tona, o ciúme, que configura a grande maioria dos homicídios passionais.
A
paixão é um tema envolvente, encantador. Paixão, desejo e amor abastecem a vida
e fazem pulsar o coração humano, conforme estabelece Rosita Esteves Lampert,
dizendo que:
Enquanto
a paixão tem um caráter explosivo e egoísta e está na linhagem do abastecimento
narcísico, o amor está na ordem do investimento do afeto amoroso e erótico em
outro sujeito. Esta forma de amor é fruto da paixão que leva à vida. É o pulsar
da vida.
[…]
Paixão, desejo, amor… Emoções que
abastecem, movimentam, excitam o homem. Fazem-nos pulsar mais forte. São temas
que despertam a curiosidade do homem. Há muitos séculos filósofos, poetas,
pensadores e psicanalistas vêm buscando entender a paixão e o amor como enigmas
que norteiam a existência humana.
A paixão gera sentimentos
controversos, que ora trazem o conforto, ora despem o indivíduo de suas
certezas. Se, de alguma forma se ganha o céu, no mesmo instante se desce ao
inferno. A ambiguidade deste sentimento, ao mesmo tempo, que, assusta, fascina
e faz bem. A passionalidade é controversa, matreira, mas traz um pouco de
lúdico a uma vida sem sabor.
Revendo Direito - Fev/13
Acervo pessoal da autora
Imagem: Google
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