domingo, 28 de julho de 2013

Como passei em um concurso público, de primeira – Vencendo um desafio



Por Mude.nu
Na virada de 2009 para 2010, decidi prestar um concurso público para uma agência reguladora do Governo Federal. Pouco menos de quatro meses depois, estava aprovado, ficando em nono lugar entre os 8.306 inscritos.

Foi a primeira vez que estudei para concurso público. Não fiz cursinhos nem tive acesso a muitos livros, pois estava morando fora do Brasil.

Estudei ao mesmo tempo em que trabalhava para minha empresa, fazia uma pós-graduação, continuava com meus exercícios físicos diários e cuidava da casa e de um namoro. Ah, e eu não entendia nada do principal assunto do concurso público, energia elétrica.

Demorei a escrever este artigo por ser difícil achar o tom certo. O objetivo não é me gabar ou manifestar qualquer orgulho besta e sim passar informações práticas de como outras pessoas podem fazer o mesmo e passar em um concurso público sem perder anos estudando para uma prova.

Digo isso porque acho um desperdício ver tantas pessoas estudando por meses, às vezes anos, a fio sem um objetivo claro e uma estratégia definida. Dito isso, vamos aos pontos que considero essenciais para ser aprovado em um concurso público.

1. Estratégia. Em grego strateegia, em latim strategi…
O primeiro ponto é ter uma estratégia para o concurso público, um objetivo principal definido. Pelo que sei, muitas pessoas se autodenominam concurseiras e saem fazendo todas as provas que aparecem pela frente. Não importa se o assunto agrada, se o conteúdo é assimilável, se haverá interesse em trabalhar com aquilo.

A minha estratégia foi escolher um só concurso público, em um tipo de órgão que eu gostaria de trabalhar. Depois que escolhi, não fiquei vendo outros, não mudei o foco se apareceu algum que pagasse mais, não titubeei.

2. Rotação de matérias para concurso público

Sou formado em jornalismo, um curso no qual você consegue se graduar sem pegar em um livro, se assim quiser.

As matérias do concurso público eram quase que completamente estranhas para mim: fundamentos do setor elétrico, direito administrativo, direito constitucional, orçamento público, ética no serviço público, gestão de pessoas. Tirando português e inglês, eu não sabia nada daquilo.

Minha estratégia para estudo foi então rotacionar as matérias do concurso público. Criei uma planilha e listei todas as matérias em uma ordem que alternasse o tipo de conteúdo. Estudava cada matéria durante 50 minutos, cronometrados (se eu tivesse que ir ao banheiro, atender o telefone ou beber água, eu parava o cronômetro).

Passado o tempo, eu ia para a matéria seguinte. Não importa se eu conseguia estudar apenas uma ou cinco horas ao dia, sempre seguia essa ordem. E sempre anotava tudo na planilha.

Essa técnica permite que você faça uma varredura em todo o conteúdo, evitando deslanchar muito em uma matéria e deixar outras para trás. A ideia é avançar em bloco.


3. Toneladas de exercícios de concurso público


Um ponto importante para quem quer passar em concurso público é lembrar-se constantemente de qual é o objetivo.

A meta não é conhecer academicamente o assunto. Você não vai escrever uma tese. O que você quer é saber responder a prova e fazer mais pontos que os demais concorrentes do concurso público. Só isso.

Para tanto, basta treinar fazendo toneladas de exercícios de concursos anteriores. No meu caso, que morava fora do Brasil e não tinha acesso a cursinhos e muitos livros, a solução foi a internet.

Fiz uma assinatura no site Questões de Concursos e fiz toneladas de exercícios para concurso público. Em menos de quatro meses, fiz mais de quatro mil questões. Uma média de mil questões por mês.

Treinando dessa maneira, as cento e poucas questões na hora da prova parece que já foram vistas e resolvidas por você. Não há mais medo, não há mais desconhecidos. É só executar o que foi treinado.

Importante ressaltar a divisão do tempo para as questões. Como disse, dedicava 50 minutos a cada matéria. No começo, como eu não sabia nada do assunto da maioria dos tópicos, não adiantava muito fazer questões de concurso público. Então foquei na teoria. Nos dois meses finais, quase todo o tempo era para exercícios a só um pedaço para revisão da teoria.

De todos os pontos, considero que fazer toneladas de exercícios é a maneira mais eficaz para quem quer passar em um concurso público.


4. Bons e únicos materiais para concurso público


O material através do qual você vai estudar também é de fundamental importância. Nada de apostilas, bizus, macetes, resumos de outras pessoas. Busque o autor mais consagrado da matéria em questão, que tenha obra voltada para concurso público.

Isso é importante por causa do que já citei acima: você não quer ser mestre no assunto (por enquanto). Você só quer acertar mais questões que os outros em uma prova de concurso público.

Minha opinião é que você deve escolher apenas um livro para cada matéria. Depois de estudar o básico da teoria, vá para os exercícios, exercícios e mais exercícios.

Preciso confessar que tive que baixar muita coisa da internet. Isso me prejudicou em alguns pontos, pois alguns livros que consegui baixar estava desatualizados. Comprei alguns através da Livraria Cultura, que entrega no exterior, mas correspondeu a menos da metade do total de material que eu consegui reunir para estudar.

5. Mapas Mentais para concurso público

Se você não sabe o que são mapas mentais, leia esse post do amigo Seiiti Arata.
Os mapas mentais para concurso público são excelentes para revisões rápidas. No meu caso, comprei uma resma de papel ofício e uma caixa de hidrocor. Para cada assunto que eu achava que merecia, fazia um mapa mental, bem tosco, mas com o essencial para esquematizar o conhecimento.

Embora dê trabalho de fazer, ajuda muito na hora de revisar. Revisar todo o conteúdo de uma matéria em coisa de 30 minutos é algo que só dá para fazer com mapas mentais, pois os resumos anotados tomam muito tempo. Além do mais, parece-me que o cérebro registra melhor as informações de forma visual.

Procurava revisar os mapas mentais para concurso público todo santo dia, até que um ponto em que eu conseguia fechar os olhos e ver a imagem, lembrar dos desenhos. O interessante é que, depois de um tempo, lembrando de apenas um desenho você vai lembrando dos demais. E aí fica mamão com açúcar.

6. O iPod é seu amigo
Como falei na introdução, a vida continuou durante os quatro meses em que estudei para o concurso público. Continuei trabalhando, fazendo a pós, indo à academia, namorando e cuidando da casa. Um grande amigo nessas horas foi o iPod.

Não sei se você sabe, mas o Governo disponibiliza a Constituição Federal e algumas leis importantes em áudio (mp3) na internet, principalmente para deficientes visuais terem acesso ao conteúdo da legislação.

O que fiz foi baixar esses arquivos (e outros que encontrei pela web) no iPod e escutar sempre. Todo dia eu tinha que ir para a academia ou correr, preparar o almoço, lavar a louça. Meu trajeto da casa para a faculdade onde eu fazia a pós demorava uma hora de ida (metrô mais ônibus) e outra de volta. Em todo esse tempo, estava eu escutando os áudios com o conteúdo da legislação pertinente ao concurso público.

Se o assunto que você está estudando não tem áudio pronto, faça o seu. Grave seu resumo, salve em um mp3 player e escute sempre que puder. Mesmo que sua atenção não esteja totalmente lá, de uma forma ou de outra você está mantendo o cérebro em contato com o conteúdo do concurso público.

7. Coma direito
Para fazer tanta coisa, é preciso energia. Por isso não parei com os exercícios durante o estudo. Um ponto que acho que foi importantíssimo no meu caso foi comer direito.

Evitei ao máximo comidas que “tiram energia”. Não sei bem explicar quais são, mas você sabe do que estou falando: aquele tipo de almoço que, quando você termina, tudo o que quer é deitar numa rede e tirar um cochilo.

Praticamente bani a comida industrializada do cardápio, assim o corpo não tinha que gastar energia com isso. O sono ficou muito melhor e com apenas seis horas por noite, durante quatro meses, eu me sentia novo para o dia seguinte.

Há quem argumente que isso foi psicológico, mas para mim é indiferente. Se funcionava, eu seguia adiante.

8. Não tenha um plano B
Não sei se esse ponto serve para todos. Ele está relacionado com o primeiro ponto que citei, mas vai além.

A questão é que eu não tinha um plano B caso eu não passasse no concurso público. Usei a reserva de grana para trazer livros do Brasil pela Livraria Cultura e comprar a passagem de ida e volta. Fui ao Brasil, fiz a prova e retornei para concluir a pós.

Quando você não tem um plano B, dá tudo o que tem para conseguir o objetivo traçado. Sem desculpas, sem frescurinhas. Era passar ou passar.

9. Estude a partir (ou antes) da autorização, não do edital
A verdade é que, quando sai o edital de um concurso público, boa parte daquelas vagas já têm donos.

Elas são das pessoas que estavam estudando muito antes, desde que tiveram notícia de que o concurso público ia sair. 

No mínimo, você precisa começar a estudar quando sai a autorização para o concurso público, que é publicada no Diário Oficial da União. O intervalo entre a autorização e o edital costuma variar entre um e dois meses, geralmente. Do edital para a prova, por lei, é preciso haver um hiato de pelo menos 60 dias. Isso vai dar entre três e quatro meses, no total, para o estudo.

Quando decidi estudar, a autorização para o meu concurso já havia saído há pouco menos de uma semana. Peguei o edital do concurso anterior e comecei a estudar por ele. O problema é que mudaram a banca e passei os dois primeiros meses estudando coisas que não cairiam (como raciocínio lógico e matemática financeira) e deixando de estudar coisas que cairiam (como ética e orçamento público). Mesmo assim, ainda é a melhor estratégia.


10. Faça um sprint final
Comparar o estudo para concursos públicos com uma maratona é um lugar-comum, principalmente para quem fica anos estudando até conquistar o cargo de seus sonhos.

Mesmo que assim seja, é importante preparar um sprint final, aquela corrida de última hora até a linha de chegada. Depois disso, não importa se você não tem mais fôlego, se as pernas estão bambas ou se o músculo adutor da coxa se rompeu. O objetivo já foi cumprido.

No último mês antes da prova, cortei tudo o que era supérfluo e até um pouco do que não era. Parei de ir à academia (fiquei só com as corridas de 20 minutos), faltei um monte de aula da pós, tirei o pé do acelerador no trabalho. Até o namoro ficou para escanteio.

Tudo o que eu fazia nesse mês final eram exercícios e mais exercícios para o concurso público, alternando com alguma revisão dos mapas e da teoria. Na hora da prova já estava tudo tão automático na minha cabeça que só errei 14 das 120 perguntas que foram feitas.

Dicas extras
  • Leia o livro Como Estudar para Concursos, do Alexandre Meirelles
  • Se você tem iPhone ou iPad, compre o aplicativo Eternity para fazer o seu log de horas de forma mais eficiente do que em uma planilha
  • Se possível, tire fotos dos mapas mentais com seu celular. Assim você pode revisá-los no ônibus, na espera do médico, no banheiro…
  • Não perca tempo lendo fóruns, listas de discussão e debates com teorias sobre compra de gabarito, favorecimentos, reclamações sobre a banca etc.
  • Acompanhe o site PCI Concursos para saber quando sai a autorização do cargo que procura
O Direito Revisto – Jul/13
Publicado originalmente em: Mude.nu
Imagem: Reprodução Google

Nenhum comentário:

Postar um comentário