Por Rafael Carvalho Rezende de Oliveira
Em que momento decidiu se enveredar pelos concursos
públicos?
Na minha juventude, sempre procurei fazer o que é
certo e nunca admiti injustiças com as pessoas ao meu redor. O curso de Direito
foi um caminho natural e uma escolha pessoal, pois não havia, naquele momento,
advogados na minha família. A decisão pelo concurso público foi tomada no
último ano da faculdade, durante as minhas férias. Após pedir demissão do
estágio, dediquei-me aos estudos voltados para os concursos públicos. A
estabilidade, as prerrogativas e as funções inerentes ao cargo público foram
alguns dos fatores que influenciaram a minha opção pelo concurso. Inicialmente,
atuei como Defensor Público da União e, em seguida, como Procurador do
Município do Rio de Janeiro.
Quando iniciou seu preparo? Qual metodologia usou?
Iniciei os estudos no 10º período da universidade
de Direito. Preparei plano de estudos, com a divisão das matérias que estudaria
a cada semana, bem como me matriculei em curso preparatório. Durante a semana,
estudava de 08:00h às 17:00h; nos sábados, treinava a resolução de questões de
concurso e atualizava a leitura dos informativos do STF e do STJ, deixando os
domingos livres para descansar e ficar com a família e os amigos.
Quanto tempo demorou para ser aprovado no primeiro
concurso?
Após a formatura no segundo semestre de 2000, a
minha primeira aprovação ocorreu aproximadamente um ano depois para o cargo de
Defensor Público da União. Em seguida, fui aprovado nos concursos para Defensor
Público do Estado do RJ e Procurador do Município do RJ, assumindo o cargo de
Procurador em fevereiro de 2002.
A Procuradoria do Município sempre foi seu foco
principal?
A Procuradoria do Município do RJ não era o foco
principal. Trata-se de um concurso que é realizado esporadicamente e é muito
cobiçado pelos profissionais do Direito, tendo em vista o prestígio da
instituição e de seus integrantes, bem como as extraordinárias condições de
trabalho. Em verdade, durante os estudos, fui surpreendido com a publicação do
edital do concurso para Procuradoria em 2001, aproximadamente seis anos depois
do concurso anterior daquele órgão.
O senhor sofreu alguma cobrança de familiares e
amigos pelo resultado pretendido?
Em verdade, a minha aprovação no concurso contou
com o especial e decisivo apoio dos meus pais. A chave do sucesso do
concursando é a disciplina e a qualidade dos estudos, mas o apoio dos
familiares é fundamental e suaviza a jornada. O ritmo forte dos estudos gerou o
afastamento temporário do convívio com meus amigos, o que foi compensado após a
aprovação.
Depois de aprovado, como foi sua rotina de
procurador do Município recém empossado?
Inicialmente, assumi tarefas junto ao Gabinete do
Procurador-Geral do Município, com a incumbência de analisar minutas de editais
de licitação e projetos de leis. Posteriormente, fui lotado na Procuradoria de
Serviços Públicos para defender o Município em Juízo em questões relacionadas
aos serviços públicos municipais, tais como responsabilidade civil contratual e
extracontratual, licitações, contratos, poder de polícia, dentre outros temas.
Durante a carreira, integrei a Banca de Estágio da Procuradoria, o Conselho do
Centro de Estudos e o Conselho editorial da Revista Carioca da Procuradoria do
Município do RJ. Atualmente, exerço cargo de Procurador Assessor da
Procuradoria Administrativa.
Quais são as atividades que um procurador do
município exerce? Como é a rotina profissional?
O Procurador do Município é responsável pelo
controle interno e defesa da juridicidade dos atos municipais, inclusive
aqueles provenientes de suas autarquias e fundações, garantindo aos munícipes
uma gestão pública dentro dos parâmetros fixados no ordenamento jurídico. As
atividades são variadas, envolvendo a defesa do Município em ações judiciais, a
propositura de ações judiciais de interesse municipal, a análise de minutas de editais
e contratos administrativos, a emissão de pareceres sobre assuntos controversos
e a orientação jurídica para os gestores. A Procuradoria do Município é
dividida em setores com atribuições específicas (Procuradoria Tributária,
Trabalhista, Pessoal, Serviços Públicos, Urbanismo e Meio Ambiente, Patrimônio
e Desapropriação, Dívida Ativa, Procuradoria Administrativa). Ao lado dos
Procuradores, trabalham auxiliares de Procuradoria, residentes jurídicos,
estagiários e outros agentes técnicos fundamentais para o bom desempenho da
atividade-fim.
Qual foi o momento mais engraçado ou curioso da sua
carreira até agora?
O momento mais curioso ocorreu na primeira semana
de trabalho quando realizei a primeira sustentação oral no Tribunal de Justiça.
Ao subir na tribuna fui interpelado pelo Desembargador que me advertiu sobre a
impossibilidade de sustentação oral por estagiário. Apresentei-me como
Procurador do Município, mas não tinha a carteira funcional, nem o ato de posse
naquele momento. A sorte foi a presença, na Câmara, de Desembargador, que havia
comparecido à posse do concurso, que me reconheceu e confirmou que era
Procurador do Município, viabilizando a sustentação.
E o mais triste?
Não houve momento triste na minha jornada na
Procuradoria do Município do RJ. A carreira é estruturada, composta por pessoas
competentes e permite a realização profissional de seus integrantes.
Como o senhor concilia sua carreira profissional
com a acadêmica?
Assim como ocorre com os advogados, que atuam em
escritório ou empresas, os ocupantes de cargos públicos (magistrados,
promotores, procuradores etc) devem ser disciplinados para compatibilizar a
carreira profissional com a vida acadêmica. Terminei o Mestrado e estou na fase
final do Doutorado, reservando a parte da noite e os finais de semana para os
estudos e a elaboração de livros.
O que deve esperar o concursando na hora de optar
pela carreira na Procuradoria do Municipal do Rio de Janeiro?
O concursando pode esperar uma instituição séria, reconhecida
por sua excelência juntos aos tribunais e operados do Direito. A preparação
para o concurso deve enfatizar o estudo do Direito Público. É importante
lembrar, contudo, que “existe vida após o concurso” e que “o concurso não é a
solução para todos os problemas”. Ou seja: ao tomar posse, o profissional deve
se dedicar à carreira e se manter atualizado para enfrentar os desafios
inerentes à defesa do interesse público.
O Direito Revisto – Jul/13
Publicado
originalmente em: Carta Forense
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