quarta-feira, 3 de julho de 2013

Um batepapo sobre como estudar



(Você sabe estudar para concursos?)

Por Prof. Luciano Oliveira

Oi, concurseiro(a), tudo bem? Hoje vou falar um pouco sobre técnicas para um estudo produtivo e eficiente. Muita gente me pergunta como eu faço para estudar de maneira adequada, sem ficar logo cansado, e como absorver de modo satisfatório a matéria.

Quero deixar claro, antes de tudo, que sou um concurseiro igual a todos os outros e que não sou o único a obter bons resultados nos concursos. Conheço várias pessoas que é só fazerem um concurso que passam. E sempre bem classificados. O pessoal até brinca que, quando um desses se inscreve para a prova, é uma vaga a menos no concurso. Ora, o que essa galera, aparentemente iluminada, tem que você (aparentemente) não tem?

Não é nenhum dom divino, nem mesmo boa educação ou ensino forte na adolescência. É claro que tais fatores ajudam, mas se fosse apenas isso, não haveria gente com formação deficiente ou que estava há anos sem estudar e que, no entanto, consegue passar no concurso. E tem muita gente assim, acreditem, pude comprovar isso durante os cursos de formação que fiz ao longo de meus concursos públicos.

Também não é a disponibilidade de tempo. A experiência mostra que a maioria das pessoas que passam em concurso o fazem trabalhando. Tem pessoas que têm a faca e o queijo nas mãos, não trabalham e são sustentadas pelos pais, ficam só pelo estudo, mas, por algum motivo, acabam se dispersando e não fazem o que têm que fazer. Parece que, como têm bastante tempo disponível, acham que sempre dará tempo de ver a matéria e, quando percebem, o tempo foi embora e a prova chegou, mas, estudar que é bom, nada.

Tem outros que se acham muito velhos para estudar. Se você já está nos cinquenta, inicialmente parabéns! Há algum tempo saiu na revista Veja uma reportagem dizendo que a vida começa nessa idade. É quando a pessoa já está mais madura e sabe o que quer. É quando já produziu bastante na vida e agora quer alcançar novas metas. E por que uma dessas metas não pode ser estudar coisas novas, aprender novos conceitos, passar num concurso público e conhecer gente nova e, talvez, até uma cidade nova? Pode ser uma experiência muito boa.

Se você é recém-formado ou mesmo ainda universitário, por que não aceitar logo um grande desafio em sua vida e mostrar para todos do que é capaz? Imagine você, novinho(a), exercendo logo um bom cargo na Administração Pública? E conhecendo gente nova, da sua idade ou mais experiente, em uma saudável e profícua troca de experiências.

Hoje tenho grandes amigos, que conheci durante os concursos que fiz e no exercício dos cargos que assumi, e que se revelaram pessoas superagradáveis de conviver e com muitas coisas para me ensinar, independentemente de suas idades. Pois é: concurso público não é só uma boa remuneração, é uma nova experiência de vida e a oportunidade de trabalhar com gente dinâmica e competente, pois não se é aprovado num concurso sem possuir qualidades como essas.

Mas, afinal, como estudar de forma eficiente? Seguem abaixo algumas dicas ou princípios que devem nortear seus estudos, de forma a você atingir sua meta (a aprovação!) em menos tempo do que imagina:

1) Não é matéria demais.

Tem gente que olha o edital e se pergunta: como vou enfiar tudo isso na cabeça? Resposta: estudando com calma e método, sem se desesperar, e fazendo um planejamento adequado e com a antecedência devida. É claro que você não vai conseguir aprender tudo faltando dois meses para a prova. Quem passa em concurso começou a se preparar muito antes do lançamento do edital. São pessoas que incorporaram a preparação para o concurso de forma rotineira às suas vidas, e estudam como quem vai ao trabalho ou à academia. Fazendo assim, pouco a pouco, ao longo dos meses e anos, vão progredindo nas matérias e quando se vê, já estão lá longe nos estudos, tendo varrido grande parte do edital.

2) A matéria não é complicada.

Alguns leem o material ou assistem às aulas e acham que não entendem nada. Das duas uma: ou estão estudando de má vontade ou estão com o material e/ou com o professor errados. Sim, porque o que tem de material e de profissional ruim no mercado não está no gibi! Não estou dizendo que sou nenhum pedagogo nem que minhas obras são excelentes. Por favor, estou aqui hoje como um amigo para orientá-lo nos estudos e não quero nem saber se você gosta ou não das minhas aulas ou dos meus livros. Aliás, o que pode ser bom pra um pode ser maçante para outro.

De qualquer forma, procure se informar com os concurseiros que conhece ou que encontra em fóruns de debate e redes sociais na internet sobre os melhores materiais e melhores professores de cada matéria, para evitar perder tempo ou se desgastar à toa. Nem pense em utilizar o material que tem em casa só porque você já o possui. Se for um livro excelente, sorte sua, utilize-o. Mas se você chegar à conclusão de que o material é ruim, doe-o para alguém e compre o que há de melhor no mercado. Concurso público não é brincadeira. Se é pra fazer a coisa mais ou menos, melhor nem começar. Ninguém quer entrar numa disputa pra chegar em último lugar. Creio que aqui não vale o velho ditado que diz que o que importa não é ganhar, é competir. Além disso, pense nisso: se você investir R$ 1.000 (mil reais) em livros, pode ser que você se pague esse valor em menos de um mês de trabalho no novo cargo.

Todo novo conhecimento soa estranho em nossa cabeça. Mas, aos poucos, a gente vai se acostumando, vai incorporando os conceitos, vai fazendo uns exercícios, e, quando vemos, já estamos entendendo melhor a matéria. A primeira leitura, geralmente, é um pouco mais tortuosa, menos eficiente e, muita vezes, pouco apreendemos do que foi lido. Não se preocupe. Isso acontece com todo mundo, comigo é assim também. Recentemente comecei a estudar mais a fundo o Direito Processual Penal, que tinha visto somente “en passant” na faculdade, e cadê que eu entendi de primeira? Tive que reler a matéria umas duas ou três vezes, olhar uns casos concretos, ver uns exercícios, encher os amigos mais experientes de perguntas, antes de finalmente começar a consolidar a coisa em minha mente. Com toda matéria é assim. Dê tempo ao seu cérebro para “digerir” o novo conhecimento e, aos poucos, você vai começar a entender melhor o que estuda.

3) Meu oponente não é mais inteligente do que eu.

Em primeiro lugar, que coisa feia ficar chamando nosso colega de prova de oponente ou rival. Ele é nosso companheiro, nosso futuro colega de trabalho. Imagine que você está aqui e ele lá, cada um fazendo seu papel para, futuramente, se encontrarem e se tornarem grandes amigos de profissão. Assim como você, o outro concurseiro está lá na casa dele ou no cursinho ansioso com o mundo de coisas a estudar e tempo que parece nunca ser suficiente. Ele também olha as provas anteriores e acha tudo muito difícil. Mas, assim como você, ele sabe que está no meio do caminho e que, aos poucos, se tornará um grande concurseiro e passará na prova e, um belo dia, quando estiverem ambos conversando em um bar ou um restaurante, depois de um dia de trabalho no órgão que vocês escolheram, as pessoas perguntarão, afinal, o que você e ele fizeram para passar no concurso. Muito estudo e disciplina, vocês dirão. E um sonho fixo na mente: alcançar a vitória!

4) O tempo é suficiente.

Tem gente que olha o edital e fica desesperado com o tempo que tem para estudar o programa. Olha a prova no dia do concurso e fica desesperado com o tempo que tem para resolvê-la. Olha tudo que ainda não fez na vida e fica desesperado com o que ainda quer fazer antes de morrer. Pare com isso! Ponha na cabeça que o tempo dá. De passo em passo, você chega lá.

Para que ficar ansioso(a) se a vida é bela, sua família é bonita, seus amigos são verdadeiros, você tem saúde ou, pelo menos, alguns desses pontos se encaixam em sua realidade? Estude para aprender, tornar-se uma pessoa melhor, e o que vier a mais é lucro. Essa forma de pensar, obviamente, serve para lhe dar maior tranquilidade, mas não relaxe nos estudos ou na atenção na hora da prova, pois há uma meta a alcançar. Faça o seguinte: no dia “D”, imagine que está apenas fazendo um simulado, que é apenas um treinamento, mas, por favor, não se esqueça de que não é!

Aliás, é incrível como existem colegas que discorrem sobre a matéria da prova de maneira fluente e até dão aula sobre os assuntos nas mesas de bar da vida (só um legítimo concurseiro discute matéria de concurso em mesa de bar!), mas na hora “H” não conseguem a aprovação. Talvez o problema não seja de conhecimento, mas de ansiedade. Na hora da prova, fique calmo. Você já é um(a) vitorioso(a) por ter chegado ali. Agora respire fundo e faça o que tem que ser feito, com método e disciplina.

A ansiedade gosta de sabotar nosso estudo, mas pense que, a cada dia, a cada hora de estudo, você está se tornando uma pessoa melhor, mais culta, mais instruída, e isso é muito legal. Depois que comecei a estudar para concurso, passei a entender de vários assuntos que sempre ouvira falar, mas dos quais eu tinha apenas uma vaga idéia. Passei a entender, por exemplo, o que eram aqueles números da economia que o repórter falava no Jornal Nacional e o que queriam dizer aquelas análises mirabolantes que os especialistas faziam sobre a política do Governo.

5) Variar é o segredo.

Se você ficar estudando a mesma coisa todo dia vai acabar se cansando, principalmente se não for a matéria de que mais gosta. Portanto, faça uma tabela de estudos alternando as disciplinas, colocando, por exemplo, uma humana (direito, português, etc.) seguida de uma exata (matemática, raciocínio-lógico, etc.), de modo a dar um refresco para seu cérebro e causar a impressão de que você está sempre começando a estudar naquele momento.

Cuidado também pra não ficar estudando só o que gosta. Conheço indivíduos que são verdadeiros doutores em Direito Administrativo e Constitucional simplesmente porque gostaram tanto da matéria que já estudaram tudo o que é possível sobre elas. Muito legal isso, depois que passarem no concurso podem se habilitar a dar aulas em algum cursinho e até escrever um livro pra ajudar os demais concurseiros. Mas, eu pergunto: de que adianta gabaritar uma matéria e não conseguir o mínimo na outra? Assim, procure estudar todos os assuntos por igual, ou correrá o risco de morrer na praia. Como eu dizia no meu tempo de Fuzileiro Naval, o pelotão deve avançar em linha, um protegendo o flanco (lado) do outro.

6) Faça exercícios.

Outro dia me perguntaram em sala: “Professor, já li o livro A, o livro B e o livro C da matéria tal. Qual livro o Sr. acha que eu devo ler agora?”. Minha resposta: “Nenhum! Pare de estudar teoria ou você vai virar um teoricão.” Teoricão é aquele concurseiro que tem 100% de teoria e 0% de prática. Adora estudar a teoria e assistir às aulas. Entende tudo que lê e assiste e acha que está indo bem. Só que, quando chega a hora da prova, por alguma razão inexplicável (inexplicável para ele, é claro), não consegue ter sucesso.

Os exercícios são a teoria aplicada. De nada adianta ler livros e mais livros da matéria se você não sabe como aquilo é cobrado em prova. Além disso, muitas vezes o enfoque dado pela banca é bem diferente do que consta dos livros. E isso não é culpa do material. As bancas mudam seu jeito de pensar e cobrar as questões a cada ano, de modo que é sempre bom você fazer exercícios recentes, para saber o que “está na moda” para o examinador naquele momento.

E mais: quando você resolver os exercícios, ficará na dúvida em diversos itens e terá que retornar aos livros. Essa nova passada na teoria, desta vez focada na procura da específica dúvida que você teve, é muito mais agradável e efetiva do que a primeira leitura que você faz, quando, não raras vezes, tem-se a impressão de que tudo é a mesma coisa e não se sabe o que é mais importante para a prova.

Bem, caro(a) concurseiro(a). Essas são apenas algumas dicas de estudo, que espero que você siga quando estiver se preparando. Ninguém é melhor do que ninguém e, se aquela pessoa passou no concurso, então você também vai passar. Não tenho dúvidas disso. Todo trabalho sério e bem feito sempre alcança um bom resultado. E com você não vai ser diferente. Não desista de seus sonhos, porque eles são a sua razão de viver.

O Direito Revisto – Jul/13
Publicado originalmente em: Ponto dos Concursos

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