quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Um pouco de História

Por Prof. Geovane Moraes

Jean Paul Sartre certa vez disse: “para termos uma análise mais acertada de um determinado acontecimento histórico, devemos guardar uma segura distância de algumas décadas”.

Hoje, são transcorridas exatas oito décadas de um dos fatos mais marcantes da história contemporânea. Às 15h50min, o Presidente Constitucional Paul von Hindenburg, assinava o termo de nomeação como chanceler (primeiro ministro) da Alemanha de um austríaco, pintor de paisagens e naturezas mortas, recusado duas vezes pela Academia de Belas Artes de Viena por falta de talento e, principalmente, de um bom patrono.

Ferido na Batalha do Somme (Norte da França), durante a Primeira Guerra Mundial, condecorado e promovido a cabo, o pintor passou a integrar a legião de desempregados e desesperançados que inundou a Alemanha após a capitulação humilhante de Versalhes.

Chamados pelos franceses de “gueules cassées” (caras quebradas), essa legião de miseráveis nada tinha para negociar a não ser sua força de trabalho em uma nação que não tinha empregos a oferecer; nada almejavam, a não ser o alimento de mais um dia e a desforra para suas almas antes pujantes e agora alquebradas; nada semeavam, a não ser um ódio incontido e inominado por todos aqueles que sempre serviram de bodes expiatórios na formação cultural dos povos germânicos.

Mas o pintor tinha algo a mais que o destacava em meio a esta multidão. Ele tinha o dom, ou o presságio, da palavra.

Fazendo da oratória o seu instrumento de combate, prometeu a este povo emprego, forjando o aço e construindo tanques que levariam as fronteiras da Alemanha ao infinito. E esse povo sorriu.

Prometeu vingança contra todos que estrafegaram as vestes outrora vistosas do manto germânico. E esse povo vibrou.

Bradou com olhos injetados que a pureza ariana seria recomposta através do extermínio dos considerados por ele como inferiores, impuros ou indesejados. E esse povo entrou em êxtase.

O pintor sabia o que dizer. Sabia as palavras certas que deveria usar. Sabia convencer multidões a abrir mão da liberdade em troca de pão. A renunciar a valores morais e éticos em troca de orgulho. A ceifar vidas inocentes em nome do Reich.

E aí vieram os desfiles, as palmas, os brados.

E aí vieram o gueto de Varsóvia, o cerco a Stalingrado, as cercas de arame farpado e a música de Franz Lehar e Strauss, tocados por uma orquestra cigana na entrada de Campo de Auschwitz – onde o inferno mantinha seus umbrais sem precisar que Cérbero os resguardasse, pois a S.S. se encarregava da tarefa com maestria.

E aí veio a missão eterna de nunca esquecer o que houve, pois outros pintores existem pelo mundo, prometendo rosas semeadas com sangue e cultivadas no campo fértil da ignorância.

Lembrar é honrar os que padecerem e preservar os que virão.

Revendo Direito - Jan/13
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