Por Antônio José Eça
Todo mundo merece uma Segunda Chance? Parte I
Ouvi esta frase de uma eminente
profissional de saúde, a respeito da possibilidade ou não de que
determinado indivíduo, (diga-se de passagem, matador de várias moças em
um grande parque dos arredores da cidade), receber uma hora destas, um
livramento e voltar ao convívio social.
Os alunos que me conhecem e estavam presentes na
reunião onde se deu tal discussão, logo me olharam, pois sabem de minha
postura em casos como este.
É que sabem que, a despeito de todas as tentativas
de mudanças na nosografia e nosologia psiquiátrica, (‘impostas’ tais
mudanças, primordialmente por uma, digamos assim, ‘tirania’ da
Associação Psiquiátrica da América do Norte, que coloca e tira doenças
das classificações, a seu bel prazer, mais preocupada em atender ao ‘politicamente correto’
do que á psicopatologia), minha postura é de pensar como pensavam os
psiquiatras tradicionais, clássicos, (e claro, chamados também de
‘retrógrados’, ‘fósseis’, ‘jurássicos’ e tudo o mais – onde, claro, me
enquadram).
E como bom ‘jurássico’, não posso deixar de pensar que em se tratando de eventual portador de alterações de personalidade, caso isto se confirme, pouco haverá para se fazer a respeito de uma eventual recuperação do indivíduo em questão.
Da historia da alteração de personalidade faz parte
considerar que foi Prichard que, em 1835, se utilizou pela primeira vez
da expressão “Insanidade Moral”, para caracterizar certas
condutas anti-sociais e a notória falta do senso ético de certos
criminosos e foi ele mesmo quem afirmava que existiam insanidades que
apareciam sem o comprometimento intelectual ao qual se estava acostumado
a ver em outras alterações, mormente nas psicóticas; também foram
chamadas de inferioridade psicopática, por Kock, por volta dos
anos 1891 – 93; na França, eram chamados de ‘degenerados’,
principalmente por Morel e Magnan, e posteriormente, Dupré, já em 1921,
chamou-os finalmente de Personalidades Psicopáticas, termo hoje mundialmente conhecido .
Foi entretanto Kurt Schneider o autor
cujas idéias sobre personalidades psicopáticas mais influenciaram os
psiquiatras do século passado, (aqueles ‘fósseis’, lembram?) em função
de seu profundo e minucioso estudo das mesmas. Em sua maneira de ver, ‘das
personalidades anormais distinguimos como personalidades psicopáticas
aquelas que sofrem com sua anormalidade ou que assim fazem sofrer a
sociedade.”
Mais tarde, o Prof. Mira y López, veio a conceituar
a Personalidade Psicopática, adotando um conceito também clássico e até
mais aceito, dizendo que ‘Trata-se de uma personalidade mal
estruturada, predisposta à desarmonia intrapsíquica, que tem menor
capacidade que a maioria dos membros de sua idade, sexo e cultura para
adaptar-se às exigências da vida social”.
O conceito do que no passado se denominava apenas ‘personalidade psicopática’ e hoje recebe outras denominações, tais como transtornos de personalidade ou fronteiriços, varia
apenas discretamente de autor para autor; a grande maioria, entretanto,
considera tal grupo de alterações como resultante de desarmonias na
integração da personalidade, não como ocorre em um distúrbio dinâmico,
mas como um desequilíbrio que decorre da própria estrutura intrínseca da personalidade. Não seriam portanto, considerados doenças mentais francas e são portanto, somente anormalidades mentais, não doenças mentais.
A personalidade psicopática é pois uma variação
anormal da personalidade, e em verdade, conhece-se a personalidade
psicopática através da constatação de que existem certos indivíduos que,
sem apresentarem alterações da inteligência, ou que não tenham sofrido
sinais de deteriorarão ou degeneração dos elementos integrantes de seu
psiquismo, exibem através de sua vida, sinais de serem portadores de
intensos transtornos dos instintos, da afetividade, do temperamento e do
caráter, sem contudo assumir a forma de verdadeira enfermidade mental.
São, desta forma, em sua grande maioria, pessoas
que se mostram incapazes de apresentar sentimentos altruístas, tais como
sentir pena ou piedade e de se enquadrar nos padrões éticos e morais
das sociedades em que vivem já que apresentam um profundo desprezo pelas
obrigações sociais.
Suas motivações são muito mais as de satisfação
plena de seus desejos, associada à uma falta de consideração para com os
sentimentos dos outros, o que o leva freqüentemente, por exemplo, a se
envolver em golpes financeiros, na falência de um concorrente ou, nos
casos mais radicais e que chegam mais próximo da aparição ao grande
público, no cometimento de um estupro ou de um assassinato, ou vários
deles.
Por hoje, é isto; logo vamos voltar a falar destes chamados ‘predadores sociais’.
Revendo Direito - Jan/13
http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/todo-mundo-merece-uma-segunda-chance--parte-i/10153
Nenhum comentário:
Postar um comentário