segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Considerações sobre a agressividade do ser humano


Por Elis Pena

Newton e Valter Fernandes entendem que, o comportamento agressivo da humanidade decorre do desenvolvimento de sua inteligência, onde através de uma consciência primitiva, o ser humano passou a escolher o melhor caminho para saciar a fome. Esse fato teria despertado o sentido de preservação, através da utilização armas contra seus predadores, para conseguir mais alimento e finalmente para agredir outros homens.

Sob um enfoque mais moderno, Jacques Lacan  diz que “a agressividade é uma experiência correlata, de um modo de identificação que, nós chamamos de narcísica  e que, determina a estrutura formal do Eu, do homem, e o registro de entidades características do seu mundo”. 

D. W. Winnicott diz que “amor e ódio constituem os dois principais elementos a partir dos quais se constroem as relações humanas. Amor e ódio envolvem agressividade [...], e a agressão pode ser um  sintoma do medo”.
Ainda, segundo o autor, a agressividade pode ser dissimulada, pode ficar escondida, disfarçada e quando vêm à tona é difícil se identificar suas verdadeiras origens. Na verdade, ela traz consigo dois significados distintos. O primeiro seria uma frustração direta ou indireta e o outro é a energia que conduz o indivíduo.
Entende ainda, que a agressão é algo não resolvido que frustra o indivíduo, mas ao mesmo tempo, é também uma energia vital, que todo o ser humano precisa para viver.
Dando continuidade aos estudos desse autor, a agressão pode se manifestar plenamente em alguns atos e com a mesma velocidade que surge, pode desaparecer. Outras vezes, a agressividade humana pode estar escondida, camuflada e, por isso, não aparece abertamente. Uma criança que não faz mal a ninguém, por exemplo, pode ter no decorrer de sua vida surtos de sentimentos agressivos, como uma explosão de raiva ou uma ação perversa.

Maria Rita Kehl defende que, o ser humano desde criança, se desenvolve através de duas correntes básicas que são: os impulsos que defendem a vida  e os impulsos que defendem a morte. As funções primitivas que se relacionam com a preservação da vida, são as que defendem a sobrevivência do indivíduo, como por exemplo, o alimento, o sono, água, ar, etc. As pulsões eróticas  que se desenvolvem através do contato materno (relacionar-se com outro ser), exigem, para que se obtenha êxito na sua preservação,  interagir com outros indivíduos, e lançar, desta forma, uma espécie de irradiação violenta que erotiza as pulsões e as carrega decodificadas em seu subconsciente pelo resto da vida.
Ainda, conforme defende a autora, a tendência agressiva encontra-se nas pulsões eróticas (pulsões da vida), uma vez que, o vetor erótico impulsiona os indivíduos ao combate para que vivam sob constante tensão.

Descreve D. W. Winnicott que, os estágios iniciais do desenvolvimento estão em permanente conflito, não existindo ainda, uma interação concreta entre o que é realidade e o mundo lúdico de uma criança. A personalidade  não se formou por completo, e o que o pequeno ser, tem de real, são as sensações arraigadas em seus instintos primários
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Anthony Storr faz uma comparação entre os atos extremamente agressivos e os atos grandiosos feitos pelo homem. Na sua concepção, tanto os atos bons, quanto os maus, partem dos mesmos princípios que constituem a consciência humana. Entende ele que, sem a parte agressiva e por consequência, ativa, o homem não teria tanto êxito em suas investidas, talvez não tivesse nem mesmo sobrevivido como espécie, uma vez que, por toda sua trajetória sempre fez uso da força bruta para se defender fisicamente.

Ayush Morad Amar, comentado por Newton e Valter Fernandes, diz que no Sistema Nervoso Central, logo após o nascimento, a criança passa a ser influenciada  pelo ambiente que a cerca, sendo assim, a interação entre o cérebro e o meio ambiente nos seres humanos acontece a partir do primeiro respirar.
Ainda, considera o autor que, o sistema límbico (que é parte do cérebro responsável pelas respostas afetivas e emocionais) é muito importante no desencadeamento de reações agressivas e violentas, porque existe uma interação entre os agentes fisiológicos (produção de hormônios) e o meio em que o indivíduo está situado. Seria uma espécie de resposta, que o ser humano apresenta após compilar todas estas informações.

Defendem Newton e Valter Fernandes que, na realidade o desafio da agressividade e violência, associado ao ser humano não pode ser enfrentado de forma simples e com um único viés, porque em uma mesma situação,  um homem mata, o outro socorre e um terceiro, pode fingir que nada vê. Então, entendem os autores que, se tudo fosse comandando pelo simples instinto, toda a humanidade reagiria da mesma maneira na mesma situação.
Consideram ainda que, o homem é um somatório do inato e do adquirido através de sua experiência de vida. Seria uma espécie de comportamento que vai se moldando com o que aprende e assimila de novo no meio em que vive.

Para Erich Fromm,  as agressões humanas classificam-se em benignas e malignas. A agressão biologicamente adaptativa (benigna) é considerada pelo autor como reação às ameaças que o indivíduo sofre para preservar sua vida. Na verdade, ela surgiria para extirpar a ameaça que se faz presente. A agressão biologicamente não adaptativa (maligna) surge, mas não para combater uma ameaça, é uma característica exclusiva do homem que sente no ato de matar e na crueldade, prazer.

Na visão positivista de Enrico Ferri,   o amor pode gerar agressão, como por exemplo, quando se bate na pessoa amada e em resposta se obtém uma admiração, um amor maior do que se podia mensurar antes das agressões. Em contra partida, entende o autor que, nestes casos já estão instaladas as doenças miseráveis do amor que sucumbem, mais cedo ou mais tarde, toda e qualquer relação.

Revendo Direito - Fev/13
Acervo pessoal da autora
Imagem: Google

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