Por desconhecimento da existência da lei, grávidas brasileiras deixam de receber alimentos gravídicos no período da gestação
Alimentos gravídicos. Este é o nome da pensão a que as gestantes
brasileiras têm direito de receber do pai da criança no decorrer da
gestação, da concepção ao parto, referentes a alimentação especial,
assistência médica e psicológica, exames complementares, internações,
parto, medicamentos, entre outros, de acordo com a Lei 11.804/2008 que
dispõe sobre Alimentos Gravídicos.
Para o advogado Rolf Madaleno, diretor nacional do Instituto
Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), o instituto dos alimentos
gravídicos ainda é um direito pouco exercido “talvez por ignorância das
pessoas ou por orgulho da gestante que, abandonada pelo suposto pai, por
orgulho próprio prefere manter distância do indigitado pai”, disse.
Por estas razões, é tão importante esclarecer e difundir essa lei.
Para que o nascituro possa desenvolver-se, é direito da mulher grávida
buscar o auxílio financeiro, ou, na linguagem jurídica, os alimentos
gravídicos, daquele que seria o suposto pai. Estes são para custear as
despesas decorrentes da gravidez, compreendendo os valores suficientes
para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez.
O Código Civil estabelece, segundo Rolf Madaleno, que a
personalidade civil da pessoa começa no nascimento com vida, mas a lei
põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. “É preciso que
aquele que está por nascer possa nascer com vida. A lei protege a vida
como direito fundamental da pessoa, mas não só a vida extrauterina, como
especialmente a vida intrauterina”, disse. De acordo com o diretor do
IBDFAM, os alimentos gravídicos são devidos até o nascimento, com vida,
do nascituro. Depois disso, este auxílio se transforma em pensão
alimentícia, até que uma das partes requeira a revisão do valor, para
mais ou para menos do montante alimentar fixado para a gestação.
Muitos não sabem, mas assim como acontece com os devedores de
pensão alimentícia, quem ficar devendo os alimentos gravídicos também
pode ser preso, como observa Rolf Madaleno. “A prisão por dívida
alimentar acontece quando o devedor deixa injustificadamente de pagar os
alimentos que são essenciais à sobrevivência do credor da pensão. O
recebimento deles é fator fundamental para a sobrevivência de quem está
para nascer e, portanto, sua falta admite a cobrança executiva, sob pena
de prisão. O devedor pode ser cobrado judicialmente em execução pelos
meios tradicionais da pena de prisão, da penhora, inclusive online, ou
do desconto em folha de pagamento”, afirma.
Indícios de paternidade protegem o nascituro - Não
é incomum, nas ações de alimentos gravídicos, o suposto pai negar a
paternidade. Por conta dessa previsão de negativa de paternidade e
porque não é recomendável a realização de exame pericial de DNA durante a
gravidez, a Lei 11.804/2008 condiciona o provimento dos alimentos
gravídicos à probabilidade de paternidade. “Bastam os indícios de
paternidade, não se fazendo exigível a prova inequívoca da paternidade,
que poderá ser impugnada com o DNA, após a criança nascer”, assegura.
O diretor orienta sobre as provas que a gestante deve apresentar
para conseguir o benefício dos alimentos gravídicos: “a gestante deve
provar seu estado gravídico através de um laudo médico, apontar quem
seria o suposto pai, acrescentando algum começo de prova da provável
relação de filiação, juntando cartões, fotos, trocas de mensagens,
e-mails e qualquer outra prova que reforce os indícios de que o pai
indicado é o réu da ação, além de demonstrar eventuais necessidades
especiais quando determinadas por orientação médica, como assistência
médica e psicológica e exames complementares, medicamentos e demais
prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis”.
Rolf Madaleno destaca ainda que, se ao longo da gestação, um
suposto pai foi condenado ao pagamento de alimentos gravídicos e, quando
do nascimento da criança, com a investigatória de paternidade,
descobre-se que não é o pai, o mesmo não receberá o reembolso dos
valores pagos “estes alimentos, pagos pela pessoa errada, são
irrepetíveis. Não há que ser falado em reembolso do que foi pago, porque
alimentos são consumidos”.
Gestantes não conhecem o benefício em Minas - A
auxiliar de administração Débora Simone de Castro Carvalho (31), entrou
com pedido de alimentos gravídicos na Defensoria Pública de Minas Gerais
(DPMG), aos seis meses de gravidez. Ela começou a receber o benefício
no mesmo mês em que deu à luz: “Até os seis meses de gravidez, eu só
sabia da existência de pensão alimentícia e quando fiquei sabendo que eu
tinha direito aos alimentos gravídicos, entrei com a ação, mas demorou
demais. Comecei a receber o benefício no mesmo mês em que minha filha
nasceu. Então, marcaram outra audiência e o juiz determinou que o
benefício fosse transformado em pensão alimentícia”, disse.
Natália de Oliveira Martins Ferreira (24) também só tomou
conhecimento do instituto dos alimentos gravídicos aos seis meses de
gravidez , "quando fiquei sabendo, entrei com o pedido, mas demorou e eu
já ganhei neném. Agora entrei com o pedido de pensão alimentícia”. Ela
também entrou com a ação de alimentos junto à DPMG, e não foi
beneficiada devido a morosidade no andamento do processo.
O defensor público Várlen Vidal, diretor do IBDFAM/MG, explica que
cada processo tem um ritmo e uma história própria. Ele recomenda que a
mulher grávida entre com a ação de alimentos gravídicos assim que seja
descoberta a gravidez e negado o auxílio espontâneo, e que “é importante
juntar fotos, cartas, cartões, e-mails, dentre outros, para convencer o
juiz e pleitear a fixação dos alimentos em sede de antecipação de
tutela ou mesmo alimentos provisórios, como alguns vêm fazendo. Caso a
medida seja positiva, entre 30 a 60 dias já se pode ter os alimentos
gravídicos”, disse.
Para o defensor, falta mais divulgação e compreensão da lei: “a
Defensoria Pública é um ótimo laboratório social. Observo que este tipo
de ação é muito pouco utilizada em nossa instituição. Há preferência
pela ação de alimentos. A minha impressão é que as pessoas estão muito
presas ao exame de DNA. Talvez isto confunda as pessoas, pois a lei de
alimentos gravídicos não exige a certeza da paternidade, mas apenas
indícios dela”, ressalta.
Várlen Vidal diz que a natureza dos alimentos gravídicos é diversa
da pensão alimentícia. “Deixar que os alimentos gravídicos sejam fixados
após o nascimento, a meu ver, perde-se a razão do seu objeto. Daí a
importância de saber como e quando utilizar os benefícios dessa lei”,
finaliza.
O Direito Revisto - Mar/13
http://www.ibdfam.org.br/novosite/imprensa/noticias-do-ibdfam/detalhe/4972
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