Por
Prof. Rogério Neiva
Fui
procurado recentemente por uma psicopedagoga clínica, minha colega de turma na
especialização em neuroaprendizagem, que estava promovendo o atendimento
clínico de uma candidata ao Exame da OAB. A referida profissional tinha algumas
dúvidas sobre a dinâmica do processo de preparação para concursos públicos e
exames oficiais, mas já contava
com alguns elementos para fechar o seu diagnóstico preliminar,
inclusive estando
convencida de algumas limitações cognitivas e comportamentais quanto à
candidata, a qual já colecionava nada mais nada menos do que sete reprovações no exame.
Ao
descrever as considerações e elementos
levantados para a elaboração do diagnóstico, colocava problemas de ordem familiar,
limitações quanto às
funções cognitivas primárias como a atenção e concentração, bem
como bloqueios de
natureza psicológica. E eu ouvia aquelas colocações como se fosse a fundamentação de
uma sentença condenatória. Ou seja, da forma inicialmente constatada, de
fato, a candidata estava condenada a mais reprovações.
Daí
comecei a fazer
questionamentos à minha interlocutora, trazendo conceitos psicopedagógicos,
mas principalmente aspectos
relacionados ao universo da preparação para concursos públicos
e Exame da OAB.
Após
uma longa rodada de conversas e debates, propus
que o diagnóstico passasse por um roteiro de levantamento de dados sobre as
reprovações anteriores. Para isto, seria preciso que na próxima
sessão a candidata levasse ao consultório as suas duas últimas provas
objetivas (nas quais fora reprovada), para que fossem
realizadas algumas apurações.
Assim,
sugeri um levantamento de dados e informações, conforme o seguinte roteiro:
1-
pegue a prova ou as provas (objetivas) e separe identificando as questões que não foram objeto de
acerto;
2-
apure em percentual o
quanto estas representam do universo total de questões;
3-
do universo das questões
separadas (erradas) as classifique (separando) conforme os
seguintes critérios:
Q.1- questões que não sabia a resposta;
Q.2- questões que sabia a resposta, mas não compreendeu o comando da questão;
Q.3- questões que sabia a resposta e compreendeu o comando da questão, mas não conseguiu identificar a alternativa correta (mesmo sabendo a resposta e compreendendo adequadamente o comando da questão);
Q.4- questões que sabia a resposta, compreendeu o comando da questão e identificou a alternativa correta, mas marcou errado no gabarito;
Q.1- questões que não sabia a resposta;
Q.2- questões que sabia a resposta, mas não compreendeu o comando da questão;
Q.3- questões que sabia a resposta e compreendeu o comando da questão, mas não conseguiu identificar a alternativa correta (mesmo sabendo a resposta e compreendendo adequadamente o comando da questão);
Q.4- questões que sabia a resposta, compreendeu o comando da questão e identificou a alternativa correta, mas marcou errado no gabarito;
4-
identifique em
percentual o quanto cada grupo representa (meu palpite desde já é que o grupo Q.4
será o menor e o Q.1 será o maior);
5-
No universo do grupo de questões
Q.1, ou seja, questões em relação as quais não se sabia a resposta,
separe as questões entre os seguintes subgrupos:
Q.1.1- questões não acertadas envolvendo temas que foram estudados;
Q.1.2- questões não acertadas envolvendo temas que não foram estudados.
Q.1.1- questões não acertadas envolvendo temas que foram estudados;
Q.1.2- questões não acertadas envolvendo temas que não foram estudados.
Levantados
os referidos dados, reitero que a minha
hipótese inicial é de o grupo de questões classificadas em Q.1.2, ou seja,
questões que não foram objeto de acerto e envolvem temas não estudados, será
significativamente maior.
Independente
da confirmação da referida hipótese preliminar, após o levantamento, será identificado um cenário bem
mais claro da realidade. E neste sentido, diante das
possibilidades de resultados, algumas considerações, sem prejuízo de outras,
devem ser refletidas.
Em relação aos grupos de questões Q.2, Q.3 e Q.4,
inegavelmente, o problema recai sobre o processo de realização da prova.
No
casso, a solução pode passar, por um lado, pelo trabalho com a atenção, enquanto função cognitiva
primária e fundamental à compreensão do enunciado e identificação da resposta
correta. Neste sentido sugiro a leitura de texto específico que
trata sobre o tema (clique aqui para ler Dê Atenção à Atenção).
Por
outro lado, ainda quanto ao processo de realização de provas, no caso da falta de capacidade de
compreensão do comando da questão, uma alternativa consiste na realização de
exercícios, enquanto estratégia de familiarização com a presente atividade.
Para tanto, sugiro a leitura de texto que trata exatamente da presente
modalidade de estudo (clique aqui para ler O Papel dos Exercícios na Preparação para
Concursos).
Mas
havendo a confirmação da principal hipótese levantada – a qual, no caso da
paciente da minha colega de turma, efetivamente restou confirmada – a solução
passa por outro caminho. Ou seja, se
o maior universo de questões que não foram objeto de acerto envolvem conteúdos
não estudados (grupo Q.1.2), o problema está no planejamento do processo de
preparação.
Assim,
se impõe os seguintes questionamentos
relevantes: (1) por
que os referidos temas não foram estudados?; (2) havia um plano de estudos?;
(3) se havia, os
referidos temas foram inseridos no plano?; se não foram inseridos, qual o motivo,
isto é, foi uma exclusão estratégia e seletiva?
Neste
cenário é preciso montar um planejamento de estudos de forma adequada, baseado
na idéia do planejamento estratégico e tático. Para a compreensão de conceitos metodológicos
voltados à estruturação e execução de um adequado plano de estudos,
sugiro a palestra sobre o tema (clique aqui para ver a Palestra sobre Como Passar em Concursos
Públicos e Exames).
Para
aqueles que já contam
com um planejamento e estão há algum tempo em processo de preparação,
considere a possibilidade de suprir
suas limitações quanto aos temas em relação aos quais não se tem (e não teve na
prova) a disponibilidade intelectual. Ou seja, supere a
referida limitação.
Já
no caso de confirmação da prevalência do grupo
Q.1.1, isto é, questões
envolvendo temas estudados, mas que não se lembrava a resposta,
primeiramente, é preciso compreender que “não
se lembrava” significa não havia a disponibilidade cognitiva da informação.
Ou seja, o problema envolveu uma função
cognitiva primária denominada memória.
Neste
sentido, por um lado, é
preciso avaliar como foi o processo de busca de apropriação intelectual,
ou seja, como este
estudo foi desenvolvido? Qual a sua consistência? Por outro
lado, também não se pode descartar a adoção
de alguma estratégia de mobilização de memória, principalmente para conceitos
classificados como arbitrários. Para colaborar com a reflexão,
sugiro texto específico sobre o tema (clique aqui para ler Estratégia de Aprendizagem e Memória
Associativa)
Avançando
para a conclusão, apesar do título do presente texto, na realidade, os
elementos apresentados são mais voltados a um diagnóstico de caráter
preliminar, e não definitivo. Porém, antes
de impor uma condenação de fracasso quanto à capacidade de passar no concurso
público, é preciso entender o cenário estabelecido, de forma real e racional.
No
caso objeto de inspiração do texto, a minha colega acabou se convencendo de que
boa parte das hipóteses inicialmente levantadas, principalmente quanto às
limitações cognitivas e problemas psicológicos, estavam erradas enquanto causas
determinantes das reprovações. Na realidade, o problema era apenas uma questão de planejamento de
estudos, ou seja, aquilo que não era objeto de acerto, na sua maioria, não
havia sido estudado.
O Direito Revisto – Ago/13
Publicado
originalmente em: Blog Prof. Rogério Neiva
Imagem:
Reprodução Google
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